“Bebê Reborn”: conforto ou fuga emocional? Precisamos falar sobre isso.
Nos últimos anos, uma tendência silenciosa começou a crescer: adultos criando vínculos emocionais profundos com bonecos hiper-realistas, os chamados bebês reborn. São bonecos que imitam em detalhes um recém-nascido através do peso, cheiro, textura da pele, respiração e até batimentos cardíacos. O objetivo? Muitos dizem que é uma forma de “alívio emocional”, mas a verdade por trás disso é bem mais complexa.
Hoje, quero te convidar para uma conversa sincera sobre o que está por trás desse fenômeno e o perigo emocional que ele representa para o nosso futuro.
O que são os bebês reborn?
Os bebês reborn são bonecos realistas criados artesanalmente, com o intuito de parecerem o mais próximo possível de um bebê real. Eles são vendidos como peças de coleção, mas também como “instrumentos terapêuticos” para pessoas que enfrentaram perdas gestacionais, dificuldades emocionais, solidão ou até traumas de infância.
Só que aqui está o ponto crítico: eles não são um recurso terapêutico validado. E seu uso como substituto emocional pode aprofundar ainda mais as feridas.
Curar com fantasia: quando o “fofo” esconde uma dor não resolvida
Por trás da doçura de segurar um boneco e cuidar dele como um filho, muitas vezes está uma dor que nunca foi acolhida. Pessoas que passaram por luto gestacional, abortos, relações familiares rompidas ou traumas não elaborados podem acabar encontrando nos bebês reborn uma falsa sensação de reparação emocional.
Mas aqui está o problema: fantasias não curam feridas emocionais, elas apenas as adormecem.
Ao invés de vivenciar o luto e buscar apoio emocional verdadeiro, a pessoa se refugia em um laço com algo que não é real. É uma tentativa compreensível mas perigosa de anestesiar a dor.
Do Tamagotchi ao bebê reborn: o ciclo da substituição emocional
Quem viveu os anos 90 provavelmente lembra do Tamagotchi um bichinho virtual que precisava ser alimentado, cuidado e até colocado para dormir. Era viciante. Mas com o tempo, percebemos que aquilo não passava de um jogo.
Agora imagine esse mesmo mecanismo emocional, só que com a aparência de um bebê real, com movimentos, reações e até capacidade de falar algo cada vez mais possível com a chegada da inteligência artificial.
A tendência é clara: a tecnologia vai continuar evoluindo, e com ela, a possibilidade de criar vínculos emocionais com robôs, avatares e inteligências artificiais vai se tornar mais comum e mais perigosa.
“Ah, mas isso nunca vai acontecer comigo…” Será mesmo?
É fácil olhar de fora e pensar que isso não tem nada a ver com a sua realidade. Mas a vida muda em segundos.
Uma perda gestacional. A morte repentina de um recém-nascido. A solidão depois de uma separação. A infertilidade. O abandono.
Em um momento de dor extrema, alguém pode te oferecer um bebê reborn como consolo. E você aceita porque naquele momento parece a única coisa capaz de preencher o vazio.
E quando se dá conta, está chamando um boneco de filho, criando rotina com ele, cuidando de algo que não existe e evitando olhar para a ferida que precisa ser tratada.
O risco maior: desumanização da dor
O uso dos bebês reborn como “cura” emocional contribui para um movimento perigoso de desumanização da dor. Estamos trocando o processo real de luto, de acolhimento e de transformação por soluções imediatistas, baseadas em fantasias reconfortantes.
A dor que não é olhada, é carregada.
E a dor que é negada, se transforma em sintomas como ansiedade, depressão, dependência emocional, compulsões e até isolamento social.
Como psicólogo, o que eu vejo?
O que eu vejo na clínica, com frequência, são pessoas tentando lidar sozinhas com perdas profundas. E quando não têm apoio, acabam criando meios de sobreviver emocionalmente, como esse. Só que sobreviver não é o mesmo que viver.
A verdadeira cura exige coragem para olhar para dentro. Para nomear a dor. Para viver o luto. E para, aos poucos, reconstruir um sentido novo com apoio profissional, vínculos reais e autocuidado de verdade.
Se você chegou até aqui, preciso te dizer uma coisa:
Se você já teve contato com essa prática, ou conhece alguém que está se apegando a um bebê reborn como se fosse um filho…
Não é sobre julgamento. É sobre acolhimento.
Mas também é sobre alerta. Sobre não deixar a dor ser encoberta por uma fantasia.
Sobre buscar ajuda antes que isso se torne um buraco emocional ainda maior.
Vamos conversar?
Se isso fez sentido pra você, se você está vivendo uma dor silenciosa ou conhece alguém que está, eu estou aqui.
Envie uma mensagem. Agende uma conversa.
Você não precisa passar por isso sozinho(a).
A psicologia não oferece bonecos. Ela oferece acolhimento, escuta e caminhos reais de cura.

Felipe Rodrigues - Psicólogo Clínico
Sou Felipe Rodrigues, Psicólogo Clínico (CRP 01/23953), formado em Psicologia pela Universidade Paulista. Com ampla experiência em relacionamentos, meu trabalho é ajudar você a fortalecer conexões amorosas, familiares e corporativas. Meu propósito é apoiar sua jornada rumo a uma vida mais equilibrada, plena e emocionalmente saudável.